O desencadeamento das consequências de decisões,
consideradas estratégicas, é só uma questão de tempo.
“Nada é mais estratégico do que comida, mas isto não é razão para o Estado plantar batatas”.
M. Thatcher
Poucos sabem, mas esta declaração de Thatcher foi dada no Brasil, quando um jornalista brasileiro a questionou se o petróleo não era um produto estratégico. Nesta última semana vimos dois episódios totalmente distintos quanto ao o que é estratégico.
Na Argentina, o Governo anunciou a estatização da maior exportadora de grãos do país, alegando ser “estratégico”. Já nos EUA, o mundo assistiu o evento histórico, em que pela primeira vez, astronautas são enviados ao espaço por uma empresa privada.
A SpaceX tornou-se a primeira empresa privada a lançar pessoas em órbita, um feito, até agora, alcançado por apenas três governos – EUA, Rússia e China. Entretanto, o que impressionou não foi o seu lançamento, mas sim a nova Ordem Executiva assinada pelo Governo norte-americano, considerando o setor privado estratégico e revogando uma antiga norma que não era amigável para o setor privado no setor espacial – “A exploração bem sucedida a longo prazo e a descoberta científica da Lua, Marte e outros corpos celestes exigirão parceria com entidades privadas…”.
A SpaceX, portanto, iniciou uma nova corrida espacial internacional. Para se ter uma ideia do que isto significa, observe estes dados. Em 2010 o Presidente Obama pediu para avaliar se a iniciativa de um novo projeto lunar de Bush era viável em termos de custo, a conclusão deste foi que não era, pois levaria 12 anos e custaria pelo menos 36 bilhões de dólares. No entanto a SpaceX executou em seis anos e com um custo inferior a um bilhão de dólares.
Entre 2009 e 2019, quando a SpaceX entrou em campo, caiu de 10 mil dólares para 2 mil o preço do lançamento espacial por quilo. Mas com este último lançamento um salto gigante foi dado, pois o foguete que os levou à orbita retornou e aterrissou a bordo de um navio para ser reutilizado e isso ocorreu pela primeira vez na história dos voos espaciais tripulados. Portanto, estima-se agora que o preço do lançamento caia para cerca de 500 dólares por quilo. Cogita-se micro naves espaciais de dez quilos, que podem fazer coisas que antes era necessária uma espaçonave de 1.000 quilos.
Esta transformação radical no transporte espacial ocorreu graças a participação de atores privados e que levará ao desenvolvimento daquilo que poderíamos chamar da “fronteira final” do homem. Imagine o aproveitamento de fontes de energia limpa baseadas no espaço ou a mineração de asteroides.
Estas inovações incríveis acontecem por que a humanidade sabe aprender com os seus erros. Se de um lado alguns países esquecem este tesouro dos erros passados, como a Argentina depositando sua confiança na presença maciça do Estado na agricultura, outros tomam caminhos diferentes. Os EUA passam, agora, a liberar o espaço para a atuação da livre iniciativa.
Embora tomadas debaixo do mesmo céu, é fácil prever qual o futuro que cada uma dessas decisões adotadas por esses países desencadeará. É só uma questão de tempo.